O livro Orixás no Terreiro de Samba – a escola de samba Vai-Vai e o Candomblé, é fruto da dissertação de mestrado em Ciência da Religião (PUC-SP/2017), da jornalista e pesquisadora Claudia Alexandre. A autora que tem vivências e trânsitos nos universos das religiões de matrizes africanas e nos sambas apresenta, a partir de seu trabalho acadêmico, um verdadeiro passeio pelas origens das manifestações afro-brasileiras, desde os primeiros batuques, onde as práticas dos povos negros se confundiam entre o profano e o sagrado, até as passarelas do samba, onde vai destacar a experiência da comunidade negra que ocupou o famoso bairro do Bexiga, em São Paulo e deu origem à Escola de Samba Vai-Vai.
É nesse terreiro de samba que ela vai encontrar uma complexa relação entre os sambistas e os cultos do Candomblé. A Vai-Vai mantém um sistema religioso próprio que possibilita em seu espaço de festa o culto aos orixás patronos da comunidade, que são: Exu e Ogum. A autora explica: “Acho importante destacar que encontrei uma religiosidade na escola de samba Vai-Vai para além do resultado estético do espetáculo apresentado nos desfiles carnavalescos, algo que não se vê na tela da televisão. O olhar fragmentado, reproduzido pelos meios de comunicação, será incapaz de revelar o que sustenta a devoção daqueles sambistas no momento máximo da festa. Com certeza ali a paixão transcende o componente a escola de samba na passarela parece se transformar em um templo religioso.
O pesquisador Edmilson de Almeida Pereira (2004, p. 44)’explica muito bem quando observa que: “no decorrer dos desfiles das grandes agremiações, quando os meios de comunicação captam, em plano geral, a massa de anônimos e, em close, os personagens famosos do mundo do espetáculo, estão de fato captando uma fração do carnaval”. São três capítulos. O primeiro, Batuques e performances do corpo negro – onde resistiu sagrado e profano, explora alguns acervos da cultura afro-brasileira para descrever como práticas rituais dos negros escravizados romperam perseguições e opressões e se mantém em manifestações da cultura popular.
As diferentes formas das manifestações negro-africanas, como os batuques, foram se desenvolvendo em diferentes regiões do país, indicando características herdadas de etnias de diferentes troncos linguísticos (banto e sudanês). Mostra o samba, a roda de samba e as escolas de samba como manifestações que, das reuniões religiosas, ganharam as ruas e se espalharam em expressões culturais sincréticas. Focaliza a cidade de São Paulo, incluindo um breve histórico sobre práticas rituais de Macumba, Umbanda e de Candomblé.
No segundo capítulo Vai-Vai um território negro – aborda o território negro do Bexiga, bairro da região central de São Paulo, onde está localizada a quadra de ensaios, ou terreiro de samba, do Grêmio Recreativo Escola de Samba Vai-Vai. Investiga-se como a origem da agremiação carnavalesca se insere no contexto sócio político-cultural da cidade: a relação da comunidade negra e do samba com os imigrantes italianos, com as festas religiosas, com os cortiços e rodas de samba.
Descrevo como alguns ritos profanos da escola se alternam com as práticas dos cultos afro-brasileiros, quando transformam o terreiro de samba em espaço de culto. O terceiro e último capítulo, Exu e Ogum no terreiro do samba, volta-se para as práticas de Candomblé realizadas na escola, para entender como o terreiro de samba é concebido pela comunidade como “terreiro sagrado”, no culto aos orixás patronos. Assim, com os caminhos abertos, trilhemos o percurso rumo ao terreiro de samba, que é, ao mesmo tempo, o terreiro sagrado da Vai-Vai.
Claudia Alexandre – Paulistana, Jornalista, Radialista, Comunicadora Digital e Empreendedora. Mestre em Ciência da Religião (PUC-SP); Especialista em Ciência da Religião (PUC-SP) e é doutoranda em Ciência da Religião (PUC-SP), pesquisando religiões afro-brasileiras, memórias, matriarcado de mulheres negras nos Candomblés e Umbandas; e africanidades culturais e as vertentes do samba. É sócia-diretora da Central de Comunicação e Eventos. Dirigente do CECURE (Centro de Estudos, Pesquisas Aplicadas e Terapias de Cura -SP) e Dirigente Espiritual, Sacerdotisa do Templo de Umbanda da Liberdade Tupinambá (RJ).
Orixás no Terreiro de Samba – a escola de samba Vai-Vai e o Candomblé
224 pgs.
Capa: 21x50cm 4×0 cores
Miolo: 224 pgs, 13,8x21cm, 1 cor
Prefácio: Dr. Vagner Gonçalves da Silva – Antropólogo -Departamento FFLCH/USP
Apresentação: Thobias da Vai-Vai – presidente de honra da Escola de Samba VaiVai
Sobre a Obr