A série ‘Histórias do Samba’ foi criada ara celebrar o grande homenageado da XVIII edição.
Confira a história do bloco carnavalesco Ilê Aiyê.
O Ilê Aiyê é considerado o primeiro bloco afro do Brasil. Criado em 1974 no bairro da Liberdade, em Salvador, firma-se como polo de protesto contra o racismo, difundindo um sistema positivo de representação do negro e enaltecendo as raízes africanas da cultura nacional. Produz sua arte com música, dança, ilustração e vestuário e desenvolve, em paralelo, projetos de extensão pedagógica.
O grupo é fruto da ação da ialorixá (mãe de santo) Hilda Dias dos Santos (1923-2009), a Mãe Hilda Jitolu, e de seu filho Antonio Carlos dos Santos Vovô (1952). Promove, desde o primeiro desfile, a valorização das populações negras da África e da diáspora africana nas Américas. Também destaca e celebra personalidades afrodescendentes da história brasileira. Entre os artistas influenciados pelo bloco figuram os cantores Gilberto Gil (1942), Margareth Menezes (1962) e Carlinhos Brown (1962).
No início dos anos 1970, Vovô, Apolônio de Jesus (1952-1992) e outros moradores do entorno da ladeira do Curuzu, na Liberdade, planejam montar um bloco de carnaval formado só por negros. Foram inspirados pelas lutas por direitos civis nos Estados Unidos, pelas guerras de libertação contra o colonialismo na África e pelos movimentos norte-americanos do Black Power e dos Panteras Negras. Trata-se de uma resposta ao racismo que, embora não explícito, inibe a participação de afrodescendentes no circuito oficial da cidade. A sacerdotisa Mãe Hilda, do terreiro Ilê Axé Jitolu, aprova a iniciativa, mas impõe a condição de participar do cortejo, a fim desestimular a repressão aos foliões. Atribui-se a ela o nome do bloco, que em língua iorubá significa “casa” (ilê) e “terra” (aiyê), evidência da proximidade do grupo com o candomblé. O próprio ritmo adotado, ijexá, deriva da religião dos orixás.
Entre o estabelecimento do Ilê Aiyê, em novembro de 1974, e o desfile no carnaval, cerca de cem foliões são reunidos, dos quais constam apenas 15 instrumentistas – um contraste com os 150 componentes da bateria nas décadas posteriores. Hildete dos Santos Lima, a Dete (1952), também filha biológica de Mãe Hilda, ocupa-se da fantasia. Portando cartazes, adereços e cabelos alusivos à negritude, o grupo sai à rua, sob a vigilância da Polícia Federal, sendo vaiado e recebendo críticas da imprensa, que o tacha de racista por contrariar a suposta democracia racial brasileira. Apesar disso, a música tema, do compositor Paulo Vitor Bacelar, o Paulinho Camafeu (1947), ganha popularidade e é gravada por Gil dois anos depois. Com o tempo, a desconfiança em relação ao grupo cede a um interesse crescente: na folia de 1977, o bloco tem mil integrantes. A Liberdade adquire status de espaço negro de resistência, um quilombo, um “Harlem baiano”.
O objetivo do Ilê Aiyê de africanizar o carnaval soteropolitano transcende a festa e contribui para moldar a autoimagem e o cotidiano da população negra da metrópole. Ela começa a exibir tranças, cabelos black e rastafári, batas africanas e búzios. Esses mesmos búzios representam o logotipo do bloco, nas cores preto, amarelo, vermelho e branco, sobre a divisa “perfil azeviche”, referência ao mineral que simboliza a pele negra. De 1980 a 2005, o artista plástico José Antonio Cunha, o J. Cunha (1948), cria as estampas das vestimentas e os cenários onde ficam os dançarinos. Ele é sucedido pelo artista plástico Raimundo Souza dos Santos, o Mundão (1957). Insígnias do candomblé, como o opaxorô de Oxalá e os tridentes de Exu, compõem os elementos gráficos do grupo. O evento Noite da Beleza Negra, idealizado em 1979 para a escolha da Deusa do Ébano – rainha do bloco –, logo se converte na festa mais importante para o Ilê Aiyê antes do carnaval. No mesmo ano, sob a influência do grupo, surgem mais blocos com inspiração africana em Salvador: Malê Debalê e Olodum.
A essa altura, é estabelecida uma nova categoria para o carnaval da cidade, a de “bloco afro”. Posteriormente, o Ilê Aiyê se autodenomina como o “primeiro bloco afro do Brasil”, embora clubes carnavalescos compostos por negros interessados na promoção de aspectos das culturas da África já se formem em Salvador no fim do século XIX. Seja como for, o Ilê Aiyê dedica seus temas a povos africanos nunca exaltados, entre eles, os de Ruanda, Angola e Nigéria. Em 1989, o tema volta-se para a história brasileira, em homenagem a Palmares.
Mas não é só ao carnaval que o Ilê Aiyê se dedica. Uma escola comunitária é fundada pelo grupo em 1988. A instituição oferece os primeiros anos do ensino fundamental e tem por eixo temático a equidade racial e de gênero. Uma escola de percussão abre as portas em 1992 para formar jovens instrumentistas para a Band’Aiyê. Três anos depois, o Ilê Aiyê inicia a edição anual dos Cadernos de Educação, com textos sobre a história negra. O grupo inaugura em 2003 sua sede. Em 2010, considerado patrimônio cultural da Bahia, começa a aceitar foliões brancos, o que gera polêmica.
O Ilê Aiyê toma o carnaval como um espaço de contestação e situa o negro como sujeito e não objeto marginalizado nas representações histórica, social e cultural do Brasil. Sugere transformações nos sistemas simbólicos e discursivos dominantes a respeito dos afrodescendentes e da África. Contribui, assim, para a ressignificação de atributos e práticas associados às populações negras, impulsionando nova autoestima que repercute entre afrodescendentes, em especial na capital baiana.
Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural
BALADA LITERÁRIA 2022
Em sua décima sétima edição, a Balada Literária realiza uma homenagem ao Samba, importante gênero musical nacional.
Tendo como curadora convidada a cantora e poeta Fabiana Cozza, o evento neste ano acontecerá, após duas edições virtuais, de forma presencial, em cinco capitais: São Paulo (10, 13, 14 e 15 de novembro), Teresina (11 de novembro), Salvador (12 de novembro) e pela primeira vez no Rio de Janeiro (uma mesa no dia 20 de novembro) e Recife (2, 3 e 4 de dezembro).
Toda a programação, em breve, no site: www.baladaliteraria.com.br. A Balada Literária tem o apoio do Itaú Cultural e parceria com o SESC, Ó do Borogodó, Escola de Choro de São Paulo, Casa de Cultura Os Capoeira e Ria Livraria.
BALADA LITERÁRIA
A Balada Literária nasceu em 2006. Foi durante uma edição da Festa Literária Internacional de Paraty que Marcelino Freire resolveu fazer a própria festa, tomando como inspiração e referência a Vila Madalena, em São Paulo, bairro em que ele reside há quase três décadas. Mobilizou livreiros, donos de bar, donos de sebo, escritores e escritoras e fez uma primeira edição modesta, sempre reunindo autores de todos os gêneros sexuais e literários, nacionais e internacionais. Virou essa a cara do evento: a cara da diversidade. A Balada já acontece também em Teresina (desde 2017) e em Salvador (desde 2015). Já passaram pela Balada, entre outros, Adélia Prado, Adriana Calcanhotto, Amara Moira, Ana Maria Gonçalves, Antônio Cândido, Áurea Martins, Binho, Caetano Veloso, Chico César, Conceição Evaristo, Emicida, Gog, João Ubaldo Ribeiro, José Luandino Vieira, Lygia Fagundes Telles, Mia Couto, Ondjaki, Phedra de Córdoba, Rogéria, Sérgio Vaz, Ney Matogrosso, Valter Hugo Mãe, Wagner Moura e Tom Zé.